Foi no ano de 1880, que o neurologista francês Jules Cotard descreveu o caso de uma mulher de 43 anos que sofria de uma forma grave de melancolia ansiosa, com um delírio hipocondríaco incomum caracterizado pela convicção da não-existência dos seus órgãos. Alguns outros autores já haviam mencionado casos similares; no entanto, Cotard foi o primeiro a fazer uma descrição detalhada dessa condição. Em 1882, este mesmo autor utilizou o termo “delírio de negação” para definir a condição de sua paciente. Foi apenas em 1893, que Emil Régis conferiu o nome de Síndrome de Cotard.
Desde então, diversos casos semelhantes têm sido descritos na literatura. Todavia, não se conhece ao certo a etiologia dessa doença, sendo que, atualmente, nem é contemplado pelos sistemas internacionais de classificação de doenças.
Além do primeiro caso descrito por Cotard, o próprio neurologista relatou o caso de um homem que, nas raras vezes em que conseguia dizer algumas palavras - e ainda assim com péssima dicção -, repetia que todo o seu corpo havia sido destruído e que restaram-lhe apenas os seus olhos - e que, portanto, não podia ouvir, falar ou mover-se. Um outro caso famoso da síndrome Cotard descreve uma mulher que estava tão convencida de sua morte que fazia questão de vestir um sudário e dormia num caixão. Pediu para ser enterrada e como seus familiares se negaram, permaneceu em seu caixão até que faleceu algumas semanas depois. Há outro caso de um homem que depois de um grave acidente pensou que já estava morto, e quando o transladaram a sua cidade natal, na África, pensou que estavam levando-o para o inferno, pelo calor que ali fazia.
A Síndrome de Cotard é o resultado da desconexão entre as áreas fusiformes (que nada mais são do que todos os orifícios do corpo humano) e as estruturas límbicas que as reconhecem (como o septo, o tálamo e o hipotálamo, que estão relacionados às emoções). Como consequência, o paciente perde a capacidade de compreensão e exercício da fala, passando a negar não apenas seus órgãos internos, mas também a sua própria imagem refletida no espelho - que é descrita como "apagada e esmaecida".
O fato de o paciente acreditar, delirantemente, que está morto, que está em estado de decomposição ou que já apodreceu, evidencia um pensamento depressivo, sendo que sua descrição clássica relaciona-se com quadros melancólicos, hoje em dia conhecidos como transtorno de humor unipolar. Por acreditar-se morto - e, muito frequentemente, imortal -, o paciente deixa de se alimentar, higienizar e relacionar com as outras pessoas. Neste caso, porém, a imortalidade deixa de ser um privilégio para se transformar em um eterno tormento; longe de ser a glória, é o horror. E, se alguém tentar lhe dizer que não está morto, ele provavelmente responderá que o outro também está cadavérico, mas ainda não sabe disso.
Esta condição pode apresentar diferentes graus de gravidade. Nas formas brandas, os pacientes demonstram sentimento de desespero, enquanto que nas formas mais severas, os doentes negam a própria existência e/ou a existência do mundo. Em casos mais leves pode manifestar-se um sentimento de angústia e desespero durante um quadro passageiro de transtorno depressivo unipolar. Mas, de uma maneira geral, a analgesia (completa ausência de dor física) e a automutilação são características muito presentes - e, embora raramente consiga consumar o ato devido ao seu total desequilíbrio, são inúmeras as tentativas de suicídio.
Assim como todos os outros "problemas psiquiátricos", não existe sintoma característico somente de uma doença, podendo também essa condição ser descrita em casos de esquizofrenias, psicoses, em indivíduos que fazem uso de drogas, entre outros. Também pode estar associada à Síndrome de Capgras.
O tratamento é feito por meio do uso de antidepressivos tricíclicos e serotoninérgicos, somados a sessões de terapia eletroconvulsiva (TEC, ou simplesmente choques elétricos).
Fonte: http://www.infoescola.com/
http://www.mdig.com.br/
http://ocorvoblog.blogspot.com.br/
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