Tempestade em Snagov – O Tesouro do Conde Drácula (Parte 01)

Olá, amigos. Estive por muito tempo afastado do Blog devido a problemas pessoais.
Mas estou retornando aos poucos e vou tentar postar algumas histórias legais pra vocês.
Vamos começar com essa intrigante história sobre o mais cobiçados de todos os tesouros.
O tesouro de Vlad Tepes, o Conde Drácula.
Onde será que ele teria escondido tal tesouro, acumulado durante seu reinado de terror?
Isso é o que vamos tentar descobrir.
Prestem bastante atenção na história e vocês verão um final totalmente inusitado.
Ah, e não deixem de comentar, pois nossa imaginação se alimenta de seus comentários, sejam bons ou ruins.
Um grande abraço a todos vocês, amigos.

Tempestade em Snagov – O Tesouro do Conde Drácula (Parte 01)



Testemunho que o relato que se segue é verdadeiro.

Digo-lhe que ouvi a história de um mercador que, por sua vez, disse tê-la ouvido de um outrora jovem guerreiro, hoje um mendigo cego e aleijado, em terras tão distantes quanto as províncias de Valáquia e Transilvânia.

Contou o mercador que o mendigo afirmava ter sido soldado da tropa que fincou o estandarte do grande Sultão Mehmed II nas terras da Transilvânia. Jactava-se mesmo de ter sido um dos que trouxeram a esta corte e em esplendoroso triunfo a cabeça daquele chamado Vlad, conhecido como o Empalador ou o Filho do Dragão. Drácula, como chamavam os infiéis.

Disse o aleijado que perdeu seus olhos e pernas a serviço do Sultão, numa tarefa de alto segredo de estado, e que só se dispôs a relatar os fatos porque dez anos já são passados e todos têm o direito de saber, afinal, o que aconteceu àqueles dois homens enviados ao mosteiro cristão de Snagov e o destino trágico que se abateu sobre eles.

Pois esta é sua história:


O ano era 854 da hégira do profeta. Mehmed II, Sultão do Império Otomano, invadiu e conquistou as terras cristãs de Valáquia e Transilvânia, até então pertencentes ao Império Húngaro. Vitória que, apesar de fundamental, seria infinitamente menos importante que a tomada de Constantinopla, hoje Istambul, sitiada e posta de joelhos em 831.

Das atrocidades desse homem – que transformou os jardins e estradas da Transilvânia em campos de tortura e morte, a ponto dos gritos dos torturados obliterarem a música dos pássaros, que se banqueteava em meio a cadáveres e bebia o sangue dos inimigos – os cronistas já falaram o bastante. Sobre a entrada em triunfo fr Mehmed II na cidade de Istambul, trazendo, na ponta de uma lança, a cabeça desse infiel, todos já ouviram, também, relatos os mais gloriosos.

O que a maioria desconhece, no entanto, é o local de sepultamento do corpo acéfalo desse príncipe, o mesmo lugar onde, acredita-se, foi depositado seu tesouro, acumulado em longos anos de horror, saques e despotismo.

Mas um Mago da corte do Sultão, no entanto, conhecia a verdade: os cristãos haviam enterrado o corpo de Drácula num mosteiro da Transilvânia, uma pequena fortaleza no centro de um algo, chamada Snagov. Outros relatos, menos confiáveis, diziam que as cúpulas da igreja de Snagov haviam sido feitas de ouro puro e pintadas com alcatrão. Dessa forma, Drácula pretenderia ocultar o tesouro, salvando-o para sua descendência.

Se o Sultão realmente acreditava no conto delirante das cúpulas douradas seria difícil dizer. Mas ele, como certeza, aceitava o fato de que o tesouro de Drácula estaria em alguma parte do mosteiro. Assim, dois homens – um guerreiro e um alquimista – foram enviados à Transilvânia para descobrir os segredos de Snagov, sendo cada um mercê de sua arte. Kalil, o soldado, cavalgava orgulhosamente com sua espada na cintura, e era como se de nada mais necessitasse. Já Ghaji, o sábio, levava consigo um grande baú de aço, tão grande que ocupava um terceiro cavalo, mais robusto que aqueles cavalgados pelos dois homens. O conteúdo da caixa era incerto, talvez poções e instrumentos dos mais variados.

A viagem desses emissários se deu sem dificuldades. De Istambul ao Castelo de Silistria, na Bulgária, e dali a Bucareste e, finalmente, no caminho a Snagov, nenhum problema encontraram. A paz se espraiava por aquelas terras antes conturbadas. Nem mesmo os lobos da Transilvânia, antes tão temidos, pareciam representar algum perigo.

Snagov ficava, como já foi dito, no centro de um lago, de águas negras e geladas, encrespadas por ventos e considerada, por muitos, como as mais profundas dessa parte da Europa.

O lago, em si, é cercado por um pequeno trecho de gramado, ao qual se segue um anel de densa floresta, cortada apenas pelos rios Arges e Dimbóvila e pela estrada que vem de Bucareste e segue para Tirgoviste. Alguns camponeses vivem pelas redondezas, subsistindo da caça farta encontrada na floresta. O sinal de ocupação humana mais próximo ao mosteiro, no entanto, é um acampamento militar turco, composto por nada mais que três tendas de campanha, somando um total de quinze homens, mais seu capitão.

Os soldados estavam ali para guardar a única ponte que cruzava o lago, impedindo que qualquer um a utilizasse qté que os emissários do Sultão chegassem. Nem mesmo os guardas tinham permissão para visitar Snagov, pois Mehmed conhecia os efeitos do ouro sobre a volátil lealdade dos homens.

O extremo da ponte que toca a terra é adornado por uma grande cruz de bronze, com a altura de dois homens e envergadura proporcional. Enquanto se aproxima do acampamento, Kalil vê o ícone resplandecendo sob o sol poente. Uma visão gloriosa, pensa o guerreiro.

– O que é aquilo?
– Uma cruz. É o símbolo da fé cristã. – responde Ghaji.
– Eu sei. Mas o templo fica do outro lado da ponte...
– É verdade. Talvez nossos companheiros possam nos explicar algo a respeito. Estamos quase chegando.

Mais tarde, à noite, o capitão do acampamento lhes contou a história da cruz de bronze, da mesma forma como lhe havia sido narrada por um dos camponeses das redondezas. Ao sentir a derrota iminente, Drácula decidira esconder o tesouro e preparar seu repouso eterno e, para isso, ordenara a construção de uma nova igreja em Snagov – a mais alta de todas – disse o capitão, apontando na direção do lago, a única cujas torres se sobressaem à muralha.

– E ali ele escondeu o tesouro? – perguntou Kalil.
– Oh, com toda certeza. – garantiu o capitão.
– Como pode estar tão certo? – duvidou Ghaji.
– Eu já ia chegar lá. O fato é que, assim que a obra foi concluída, e o tesouro, pelo que sabemos, já estava oculto, todos os operários envolvidos na construção foram agrilhoados uns aos outros, com pesadas correntes e argolas nos pés, pulsos e pescoço. Foram enfileirados na ponte e Drácula ordenou que fossem arremessados à água.

A fogueira do acampamento estalou. A superfície do lago, sempre ondulada pelo vento intermitente, refletia a luz das estrelas de forma difusa, tornando visível a silhueta do mosteiro, mesmo sob a lua nova. Em outros tempos, antes da guerra, um lobo teria uivado.

– Concordo. Mas qual o segredo? – perguntou Ghaji.
– Que o ouro está lá, ora. – o capitão exasperava-se – Qual outro segredo valeria tantas vidas?
– Que o ouro não está lá. – disse o sábio, mal escondendo a ponta de um sorriso – Boa noite.

Antes que seu anfitrião tivesse tempo de responder, Ghaji levantou-se e caminhou em direção à tenda que ele e Kalil iriam dividir.

– Ele é sempre assim? – perguntou o capitão.
– Pra ser sincero, não sei. Não conversamos muito durante a viagem. Mas assim são os sábios, divertem-se em tornar forte a razão mais fraca. Agora, eu gostaria de lhe fazer uma última pergunta.
– Sim?
– A cruz de bronze. Ela está lá em homenagem aos trabalhadores mortos:
– Bem, é o que dizem...
– Quem ordenou que fosse colocada?
– O próprio Drácula, pelo que sei.

O guerreiro franziu a testa e balançou a cabeça. Por fim, deu de ombros, como se desistisse de tentar compreender a lógica disso tudo e, desejando boa noite ao capitão, dirigiu-se também à barraca.

Lá encontrou Ghaji mexendo em seu grande baú de aço. Ele havia retirado alguma coisa dali, uma caixa cilíndrica de couro endurecido, com uma alça no topo e grande o suficiente para conter um falcão de caça. O alquimista fitava o cilindro com atenção, como se tentasse ler algo escrito na superfície do couro.

– Sábio? – disse Kalil.

Ghaji virou-se sobressaltado. O guerreiro estava parado no limiar da tenda e era impossível saber se o observava há tempos ou acabara de chegar. Com uma calma estudada, o alquimista recolocou a caixa cilíndrica no baú e se voltou para o soldado.

– É melhor fazermos nossas orações agora. – disse Ghaji.

Kalil assentiu com a cabeça.

Continua...

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