A Fuga do Demônio

Quero dar os PARABÉNS ao meu colega e parceiro Fernado Gerhardt do Noite Sinistra, esse texto é de sua autoria e tive que colocar aqui pois achei MUITOOOOO BOM!!!
Quem ai também se sente como descrito no texto?
Acho que muitos vão se identificar. xD
Bom, vamos a ele:


Felizmente é segunda feira, e já me encontro no trabalho, caminho a paços largos na direção do meu escritório. Entro e imediatamente ligo o computador, largo a minha garrafa de café, sobre a mesa. Olho pela janela, e avisto o primeiro andar da empresa, e com um aceno de cabeça, cumprimento alguns colegas. Posso ver a tela inicial do sistema operacional, com o papel de parede sombrio e perturbador, desenhado por Suzzan Blac. Com rápidos cliques inicio os programas que uso diariamente. Observo as anotações da semana anterior, derramo um pouco de café dentro da caneca azul, e finalmente inicio o navegador de internet, mas algo não está certo, as palavras “servidor não encontrado” aparecem, onde deveria aparecer a logomarca do “Google”. Suo frio, com vigor pressiono a tecla F5, e nada. Estou sem internet... 

Nesse momento ouço uma sinistra gargalhada, vinda das profundezas da minha mente, sinto subir um frio pela espinha. – Estou ferrado. – penso comigo mesmo, ainda teclando repetidamente a maldita tecla. E uma voz conhecida, em tom zombeteiro, diz.

- Hoje você será meu, não adianta querer fugir. - Congelo. Sem internet ele realmente pode conseguir me controlar. O reflexo escuro de minha alma pode realmente se colocar no lugar do piloto, estremeço. Tento me acalmar, em vão, quando o horror toma conta da gente, nada racional pode ser feito para evitar o pior...

Preciso doses diárias de assuntos sinistros para poder controlar meu lado negro, preciso do mal para acalmar o demônio que habita as profundezas da minha alma. As creepypastas, contos de terror, fotos de fantasmas, contos, histórias de serial killer, coisas macabras, vídeos, minha sombra interior se acalma com isso, mas preciso fornecer doses generosas de obscuridade, e essas doses tem aumentado cada vez mais, tal como um viciado em crack.

Finais de semana é sempre um tormento para mim, não posso dar ao monstro os seu alimento, afinal preciso manter as aparências, em relação a minha família, certo? O que pensariam eles se soubessem das coisas que leio e vejo na internet? Eles suspeitariam de que algo estava errado. Até bem pouco tempo, eu usava filmes de terror para saciar a besta, mas os filmes não surtem mais efeito, “essa droga se tornou fraca”. Desde que o monstro apareceu, não tiro mais férias. No trabalho, eu consigo disfarçar bem, tenho um escritório apenas para mim, onde a privacidade da minha sala me permite, alimentar o demônio com total sigilo. Mas pelo visto hoje não será assim, logo hoje, logo segunda feira, o dia em que a sombra parece ter mais força, e mais fome, temo não conseguir controlar a fera, tremo desesperadamente.

Lembro - me do celular, pego o mesmo com a intenção de saciar meus desejos, via conexão 3G, mas o maldito aparelho exibe na tela, em letras grandes, “SEM ÁREA”.

- Meus backups. – Penso, sentindo um alívio interno. Conecto meu pendrive, com certa dificuldade, errando por diversas vezes o orifício do USB. Com o dispositivo reconhecido, acesso, com cliques rápidos e firmes, os conteúdos que acredito que salvarão a mim e as pessoas ao meu redor. Meu triunfo dura apenas o tempo suficiente, para eu descobrir, que todos os conteúdos salvos, já foram lidos, vistos e assistidos, em algum momento. Nem alívio esse material é capaz de me oferecer.

– Maldição! Como pude ser tão burro! – Grito, atraindo a atenção de alguns colegas da produção da metalúrgica, que agora, encontra - se em silêncio, já é horário de lanche, para os operários.

Pego o telefone e ligo para o departamento de comunicações da empresa, eles me informam que já estão procurando pelo problema. Continuo esmurrando o “F5”, em vão.

- É perigoso eu continuar aqui. – Falo comigo mesmo, dessa vez, em voz baixa. Decido que o melhor a fazer é sair e procurar uma lan house. Não faço ideia, ou melhor, eu faço ideia, das atrocidades que posso cometer se “ele” tomar o controle. Levanto - me, mas sinto uma fisgada nas costas, e caio contra minha cadeira.

- Você só vai sair daqui, quando eu quiser, ou melhor, quando eu estiver no comando.

- Isso nunca!!!! – Grito contra o demônio, que agora sorri largamente, colocando o dedo a frente da boca, como que pede silêncio, ele zomba de mim, posso vê-lo sentado ao meu lado fazendo carretas bizarras. Uma versão minha, sem brilho no olhar, com dentes podres e pontiagudos, exalando o mal a cada respiração. Balanço a cabeça com vigor, para desfazer a ilusão, mas ele continua lá, me imitando, e achando graça dos meus gestos.

Estou preso a minha cadeira, e permanecerei sentado aqui o dia inteiro, a menos que eu consiga retomar o controle total, nisso o telefone toca. Assusto-me. Do outro lado da linha o rapaz, que me atendera faz pouco tempo, me informa que estamos em meio a um Black out geral, segundo ele, nenhuma cidade do estado possui sinal de internet. Desligo o telefone, suo frio, olho atônito para a tela do computador, sinto o maldito repousar os braços sobre meus ombros, posso sentir o seu bafo podre, quando ele sussurra em meu ouvido.

- Prepare-se Fernando, faltam algumas horas apenas, para a gente sair e se divertir, hoje você terá uma longa, deliciosa, e alucinante “Noite Sinistra”.

Autor: F.S.G.

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