Gritos...

O quadro negro estava vazio, à espera do começo do pandemônio de números em seu ventre educador por um giz tão pálido como um defunto. Eram 8 horas da manhã, horário em que a aula da 4a série começava e logo iniciaria com Matemática.

- A professora tá atrasada...- comentou Talyta, uma menina de 10 anos como todas as crianças da classe.

- O que será que houve? - indagou Alessandra - Milagre o auxiliar de disciplina não está aqui para organizar a sala, deve estar tentando localizar a professora.

O restante não tinha nenhuma preocupação, eram só guerras de bolinhas de papel e lápis que pegavam ousadamente nos estojos de seus colegas, que atingiam em todos os 15 alunos da 4a B, os quais estavam cercados por paredes bege, murais, carteiras de ferro com almofadas "casadas" nos lugares onde recosta-se as bundas pueris e as colunas eretas, um tablado cinza que servia para a professora de um 1,60m ficar mais alta e logo do lado, havia uma mesa-escrivaninha muito interessante, onde o celular digital da educadora gritava às vezes com uma música inglesa, fazendo-a desculpar-se.

A única que não respondia as represálias de papel e outros, era Camila que estava sentada, quieta, como sempre fora. Uma menina de cabelos louros, onde as pontas batiam-se perfeitamente nos ombros cobertos pelo tecido colossalmente bom; olhos verdes belos, a qual as meninas não falavam, os meninos achavam bonita e todos a consideravam fechada como uma criança que não conseguiu o que quer, mas ela tirava as maiores notas da sala e a que era mais reparadas pelos garotos maiores que conversavam com ela, nem ocultando suas espinhas que já brotavam, ela chegou a beijar um cara simpático certa vez, sem língua, mas o garoto mudou-se de lá.



- O que você acha que aconteceu, Camila? - perguntou Rebecca.

Demorou um tempo, até que a loura inteligente perceber que falavam com ela, que queriam sua opinião.

A menina continuou séria e respondeu sem pensar no impacto de sua fala de voz suave e segura:

- Ela está morta. Ela acabou de ser atropelada na rua Sabino Silva, quando ia pegar um ônibus para vim para cá.

- Vira essa boca para lá! - exclamou Alessandra, que voltou-se indignada para as outras colegas, para começarem a falar mal da menina loura.

"Idiota! Acha que sabe das coisas."

" Deve tá achando que tem os olhos de Deus..."

" Ou os de Satã."

Camila odiou suas colegas por não terem acreditado em sua visão, no que ela vira, viu o sangue da professora derramar no asfalto como um bebê derramando sua sopa de tomate no chão da cozinha.

Nesse exato momento, Aurélio, um moreno de cabelos pretos como a meia-noite numa caverna e olhos pareciam que abelhas puseram mel nas "lagoas brancas" logo quando o menino nasceu, entrou na sala, com uma grande mochila preta nas costas de seu corpo de um 1,47m.

- Mochila nova, Au? - perguntou Leandro, um baixo de cabelos lisos e castanhos e olhos azuis.

- É, sim! Vocês gostaram?

- É tão feia quanto o dono!

Os garotos começaram a jogar giz em Aurélio, que logo sentou-se na cadeira ao lado de Camila, emburrado.

Naudeck estava sentado na sua carteira e nada fez contra o garoto, pois era um menino muito maduro e compreensivo para fazer idiotices como recriminar um colega. Seus olhos verdes mostravam um ver sábio das coisas, sua pele branca demonstrava tranqüilidade. Seria um grande cidadão quando crescesse, ele cativava muita gente por causa da sua disciplina e inteligência e não amargurava-se por não tirar as notas à cima de Camila.

Rebecca comentou para o grupinho de meninas:

- Olhem! Os patetas estão sentados um perto do outros!

- Que dupla idiota! - falou Talyta.

- Aposto que não sabem o que é um beijo... - disse Alessandra.

- E você sabe, Alê? - perguntou Ingrid, uma gordinha de cabelos cor de areia e olhos azuis escuros.

- Claro! Dei um ontem em meu primo! É delicioso! A gente bota a língua e fica num enrosca bem doido...

- Que legal! E o dente? Não se bate? - perguntou Rebecca.

- Eu já nasci sabendo isso.

Todas riram.

Camila fitava Aurélio.

- Que é? Tá me achando bonito?

- O objeto que está em sua mochila é muito perigoso.

- Não tem nada em minha mochila!

- Um revólver calibre 38.

O garoto suou. Olhou para os lados, hesitando. Depois de um minuto passando a língua nos lábios, como se nesse houvesse um demônio microscópico, o qual ele queria expulsar a qualquer custo e então, finalmente falou com a menina:

- Como sabe? Eu acabei de chegar...você não pode ter mexido em minhas coisas...mas eu sou mais poderoso que você! Tenho...ela! Não pode me impedir de nada! Eu tenho a arma!

- Não a use, por favor! Sei que você tem raiva de todos, mas não use esse revólver! - falou a garota com um olhar indescritível, mostrando a sensualidade de uma modelo e quase uma malevolência de um tigre perto do ataque.

Todos começaram a perceber a cena.

Aurélio tirou a mochila das costas, abriu-a e tirou um revólver que brilhou com as luzes fluorescentes da sala de aula. A arma de fogo tinha um preto bonito que hipnotizava o seu domador.

O garoto levantou-se e gritou:

- Eu sou mais poderoso que você!

A boca do revólver estava na direção de Camila, mas ela nada podia fazer, era paranormal, mas não conseguia mover objetos com a mente.

Logo chegaria o auxiliar de disciplina Jean, para dar a notícia:

A professora faleceu. Foi atropelada esta manhã.

Aí todos acreditariam!

O moleque disparou.

Gritos de ecoaram pela classe quando a bala dilacerou o peito infantil...

(Eles acreditariam!!!)

...de um garoto que estava atrás de Camila. O matador era muito imaturo para acertar o alvo. Naudeck morreu sangrando, jogado em cima das carteiras escolares, fora acertado quando levantou-se para impedir Aurélio, mas logo uma bala o arremessou para trás, deixando-o a ficar com os olhos fixados no teto com uma enorme mancha vermelha no meio da camisa branca do colégio. Aurélio disparou mais uma vez no meio da correria dos estudantes.

(Eles estão correndo para não morrer querem a vida! Eu também a quero!)

A bala atravessou de têmpora a têmpora na cabeça de Rebecca e depois acertou o quadro, provocando uma pequena cratera, melado do sangue da garota, que jorrou no quadro negro limpo.

Aurélio viu que Alessandra passava perto dele e a deu um soco no pescoço, antes que ela escapasse correndo como os outros e puxou-a pela garganta com os dedos da mão esquerda, e com a mão direita movimentou o revólver até colocar o cano dentro da boca da menina, enquanto seus colegas gritavam saindo da sala e indo para os corredores, a fim de se salvarem ou falarem para qualquer funcionário que encontrassem para poderem agarrar um assassino de 10 anos que segurava uma arma com balas impiedosas.

Apertou o gatilho e logo uma cratera formou-se na parte superior do crânio da menina e uma explosão de miolos que caíram sobre as carteiras em desordem, acompanhados de um sangue soturno que eram iluminados pelas luzes incessantes da sala de aula.

Ao mesmo tempo em que o corpo de Alessandra desabou para beijar os fragmentos de seu próprio cérebro, o auxiliar de disciplina Jean chegou e agarrou Aurélio por trás, antes que ele disparasse novamente, desarmando-o e levando-o para a diretoria.

A polícia chegou mais tarde para ver o que estava acontecendo e encontraram um garoto perturbado que dizia ter achado o revólver muito bonito e queria mostrar aos colegas, um menino com uma bala no peito, uma menina com um buraco na cabeça e outra com os miolos despedaçados e uma garota loura que pedia para os policiais irem para a rua Sabino Silvo, pois ela precissava fazer todos acreditarem que a professora estava morta.

Mais tarde a história se confirmou e Camila sentiu-se superior aos seus colegas, não mais pela inteligência e sim por ter poderes que eles não tinham, como ver coisas e outra como controlar mentes de pessoas, como fizera com Aurélio, mas isso ninguém precisava saber. Ninguém nunca saberia.


Crédito: Saulo Dourado

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