Papel Vermelho ou Azul?

Esse conto é uma versão melhorada da lenda urbana Japonesa.
Foi escrita pelo amigo Victório Anthony. Vale à pena ler! :D


Eu estudo numa escola pública comum, onde os alunos se preocupam com os estudos e o vestibular é importante. Como qualquer outra, temos bullying frequentemente entre os alunos. Eles dizem nomes feios, batem uns nos outros, se juntam para ridicularizar e se aproveitar dos alunos mais tímidos. Fazem coisas completamente desprezíveis mesmo para suas idades estudantis. Uma vez, prenderam uma aluna no banheiro masculino e a estupraram violentamente. Ninguém sabe exatamente quem foram os meliantes, principalmente porque os funcionários abafaram o caso para que ninguém soubesse do ocorrido e isso sujasse o nome da escola. Infelizmente a adolescente foi encontrada morta com a cabeça imersa dentro da privada e alegaram suicídio. Mas esta não é a minha história...

Depois da tragédia, todo mundo ficou um pouco cismado com o banheiro, relatando ouvir gemidos e que se você dissesse o nome da aluna três vezes ela aparecia. Uma brincadeira boba que não tinha graça nenhuma. O tempo foi passando, a época de provas chegou e todos estavam tensos e ansiosos com o resultado. Nosso diretor é muito rígido e vistoria cada sala durante as avaliações para ter certeza de que ninguém estava colando. Nessa época, alguns alunos ficam tão preocupados que acabam se saindo mal na prova e são reprovados. Não é nada demais, até seus pais exigirem que você não fique de recuperação ou levará uma surra. Aí a coisa complica. Sobrecarregado com a pressão, qualquer aluno ficaria passando mal e iria correndo pro banheiro antes da prova começar. Isso é o que selou o destino de alguns alunos...

Um desses “cagões” correu pro banheiro masculino antes das provas começarem e ficou lá um bom tempo. Outro aluno entrou para lavar as mãos e ouviu algo estranho, uma voz feminina dizendo: “Papel vermelho ou azul?” Ele achou estranho, pensou que dois namorados estariam se “aliviando” e se aproximou da porta para ouvir a putaria rolando. O cagão disse baixinho: “vermelho”, e um silêncio sombrio tomou conta do lugar e o curioso ficou lá, esperando ouvir mais alguma coisa. Foi então que ele sentiu algo úmido no chão, algo vermelho escuro se espalhando por debaixo da porta. Ele tocou aquilo e o sentiu viscoso e quente. Naquele dia a escola parou, as provas foram suspensas e aquele aluno que estava apertado foi encontrado morto no banheiro, com hemorragia drástica, sangrando por todos os orifícios do corpo, ficando completamente “vermelho”. Indagado sobre o porquê daquela pergunta inusitada, o curioso respondeu: “Quando vi o corpo dele, notei que não havia papel higiênico no banheiro...”

Não preciso dizer que a lenda se espalhou por toda a escola e todo mundo ficava de olho na quantidade de papel higiênico que havia no banheiro antes de entrar e fazer as suas necessidades. Era uma preocupação que tomou conta dos alunos que chegavam a levar seu próprio rolo de papel higiênico para não ter que responder a pergunta macabra. No entanto, ficava a pergunta: “E a outra cor, para quê ela servia?” Muitos disseram que era uma forma de escapar da maldição do banheiro, que azul era uma cor linda, uma cor de paz, de sossego. Descobriram da pior forma que não era bem assim...

No ano seguinte, as provas do final de ano chegaram, a tensão voltava a se apoderar dos alunos e a lenda do banheiro da escola estava quase esquecida. Novamente, um aluno saiu da classe antes que as provas começassem, dizendo sem parar o conteúdo da avaliação para não esquecer. Repetia várias vezes e todo mundo do mesmo corredor conhecia o “Cabeça”, aluno exemplar que nunca tirava notas baixas. Talvez por dar tanta atenção as provas, tenha esquecido de verificar se havia papel no banheiro e entrou sem mais delongas. Ele demorou e o professor, preocupado, mandou outro aluno verificar porque o Cabeça não voltava do banheiro. O colega entrou no banheiro masculino para procurá-lo e sentiu uma coisa ruim no ar; mas não era o cheiro da privada! Ele contou que era uma espécie de “peso”, que o banheiro estava sobrecarregado, que algo maléfico estava ali. Mal sabia ele como estava certo. Deu alguns passos para dentro do banheiro e ouviu a temida voz de mulher dizer: “Papel vermelho ou azul?” Ele mal podia acreditar, a lenda era verdade! Lembrou-se do último acontecido, esperou para ouvir a resposta à pergunta e disseram: “Azul”. O aluno acreditou que seja quem fosse, por ter respondido certo, logo o aluno daria a descarga e sairia dali ileso. Porém, não foi exatamente o que aconteceu. O adolescente que estava ali começou a se debater violentamente com gritos abafados, como se lhe estivessem apertando a garganta. Deram a descarga e o fecho da porta se abriu sozinho. A cena era horrível, Cabeça estava segurando o próprio pescoço, com os olhos esbugalhados, a língua completamente para fora da boca e todo seu corpo estava azulado. Outra vez o primeiro dia de provas foi cancelado por luto. Perguntaram aos médicos porque o corpo dele estava tão azul e somente o legista soube responder: “Não encontrei uma única gota de sangue nele”.

A lenda do banheiro amaldiçoado se espalhou como nunca, a pergunta “Papel vermelho ou azul?” virou febre entre os alunos, a “vampira” do banheiro era a assombração oficial da escola. Interessante dizer que todos os pais, responsáveis, professores e filhos foram reunidos para esclarecer o ocorrido com aquele jeitinho de que nada aconteceu, que nada vai se repetir, que é tudo imaginação dos alunos. Ouvi dizer que os pais do Cabeça receberam um boa grana para serem silenciados, ou então que eles foram ameaçados para sair da cidade. Influência é tudo, afinal.

Estou no terceiro ano do ensino médio, meu último ano nessa escola de merda. Meu pai me prometeu me dar um carro se eu conseguir passar de ano sem repetir. Eu AMO carros! Fiquei louco pra escolher um carrão amarelo bem chamativo pra sair na balada pegando as gatinhas. Minha vida estaria feita com aquele carro! Eu estudei muito para as provas finais, estudei feito louco como nunca havia feito antes. Eu precisava disso, eu preciso do carro, eu tenho que ganhar aquele carro. Era o que eu pensava...

Comecei o dia normalmente, saí de casa com o uniforme da escola no carro do meu pai antes dele ir pro trabalho como fiz o ano letivo inteiro. Cheguei a sala de aula, peguei meu caderno pra continuar estudando e esperei o professor chegar. De repente, senti uma pontada na barriga, parecia que meu intestino ia explodir com aquela dor aguda e penetrante. O professor entrou na sala e saí correndo para o banheiro, pedindo para ele esperar um pouco, que eu ia voltar rapidinho, aproveitando pra levar o caderno e estudar mais um pouco. No banheiro, as pontadas pioraram e sentei de uma vez na privada pra me aliviar. A sensação de alívio era ótima... E uma voz feminina começou a me chamar. Eu ouvia sua voz perfeitamente, uma voz rouca que mais parecia alguém se afogando ou algo assim. Senti um arrepio forte, calafrios percorreram meu corpo dos pés a cabeça. Lembrei de toda a história da lenda do banheiro da escola. Olhei para o suporte do papel higiênico tentando manter a calma. Ele está vazio... Tentei abrir a porta desesperadamente, não consegui girar o fecho e ainda por cima descobri que estou com a bunda presa na privada. Caralho! Mesmo que eu quisesse me limpar com o que quer que fosse, eu não consigo... Por favor, alguém me tire daqui! Não quero morrer assim! Não! Não consigo gritar! Socorro!

Tudo o que tenho agora é o meu caderno e uma caneta. Estou vendo ela, estou vendo a mulher do banheiro. Ela se contorce como uma cobra, se arrasta pelas paredes flutuando e exalando cheiro de bosta. Seus cabelos negros e sujos, sua pela cinza e viscosa... Ela está olhando pra mim. Por favor, meu Deus, por favor...

Estou perdendo as forças, não conseguirei continuar escrevendo mais... Acreditem, ela existe! Mãe, pai, amo vocês... Ela está fazendo a pergunta...

PAPEL VERMELHO OU AZUL?

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