Pensamento Macabro


O dia amanheceu chuvoso, Aline tentava a todo custo permanecer mais 5 minutos na cama, mas da cozinha sua mãe a chamava fazendo-a lembrar que tinha prova de matemática naquela manhã, e tudo o que ela mais desejava era que acontecesse algo com a professora e que a mesma não pudesse comparecer na aula. Era a primeira vez que ela desejara algo ruim a alguém, apenas por vaidade, pra ficar um pouco a mais em casa numa manhã chuvosa.

Não houve jeito, dessa vez seu pai foi lhe chamar no quarto, ela se irritou e atirou algo contra a porta, seu pai não lhe deu ouvidos, só avisou quer se precisasse voltar novamente ao quarto, ela estaria encrencada, de dentro do quarto Aline sorriu com deboche e se levantou.

Tomou o café com cara de poucos amigos, e se dirigiu para a frente da casa para esperar a van que a levaria até a escola. No trajeto cruzaram com um acidente, onde ela teve a impressão de ver sua professora agonizando entre as ferragens. Ficou um pouco tensa, afinal não desejara ver a professora sofrer, queria apenas que ela tivesse um contratempo pra não lhe aplicar a prova.

Chegando ao colégio, veio a confirmação, afinal, naquele dia a matéria de matemática tomava conta das duas primeiras aulas. A professora sofrera um grave acidente e estava entre a vida e morte, num hospital que ficava a uma quadra de sua casa. Toda a classe foi encaminhada à biblioteca até a terceira aula iniciar, Aline comentou apenas com Clarisse o mal que desejara à professora, Clarisse era a única menina que ela considerava ser sua amiga.

Aline sentiu-se um pouco culpada com a história da professora, mas não se arrependeu.
Dias se passaram até que o estado da professora melhorou, mas durante aquele ano ela não retornaria mais ao colégio.

Duas semanas após o episódio, numa aula de educação física em que elas jogavam handebol, houve um pequeno atrito numa disputa de bola entre Aline e Jéssica, que sentia uma ponta de ciúmes de Aline, que era uma menina muito bonita, magra e de estatura mediana, e que sempre atraia o olhar dos garotos da escola. Jéssica era uma menina alta demais para o padrão da turma, um pouco “desengonçada” e muito forte.

O jogo seguiu em frente, e num lance a bola sobrou livre para Aline que saiu em direção ao gol, ao dar o salto para o arremesso, Jéssica que vinha logo atrás, puxou-lhe o braço de tal forma que deslocou seu ombro de lugar, arrancando-lhe um grito de dor e desespero. Aline contorcia-se de dor no chão enquanto o professor tentava lhe prestar os primeiros socorros. Jéssica a olhava com desdém e deboche. Aline notou o ato da colega e lhe lançou um olhar que apenas Clarisse percebeu a gravidade, sabia que aquilo não acabaria bem. Aline não precisou falar nada, seu olhar falava por ela.

Aline foi levada à enfermaria da escola e liberada para voltar para casa, onde passaria três dias com o braço engessado e o uso de uma tipóia. Após o intervalo. todos retornaram para a aula de geografia, onde o professor passaria um vídeo sobre o movimento da Terra. Ao pedir que os alunos fechassem as persianas para que a sala ficasse escura, uma das peças se soltou e Jéssica, por ser a mais alta da turma, se prontificou em subir numa cadeira para consertar.

Quando esticava seus braços para prender a peça, a cadeira cedeu e seu corpo foi lançado para frente estilhaçando a parte superior do vidro, fazendo com que seu corpo ao cair sobre o vidro restante na parte inferior, partisse em dois. Seus membros inferiores ficaram na sala e o restante do seu corpo despencou de uma altura de 12 metros aproximadamente. Era uma escola de 4 andares e a turma do terceirão, onde Aline estudava, ficava no último andar. O pânico foi geral e as aulas foram suspensas durante o restante da semana.

Clarisse ao chegar em casa ligou para Aline, que não demonstrou sentimento algum, apenas falou que ela teve o que merecia pela sua arrogância e inveja. Clarisse tremeu do outro lado, Aline apenas lhe disse:
- Não tenha medo de mim, isso só acontece quando meu sentimento é verdadeiro. Se eu apenas pensar no mal de alguém, isso não acontece por espontaneidade, somente se o que eu sentir for real, mas, todavia, não me afronte. E sorriu debochando do pavor de Clarisse do outro lado do telefone.

Anos se passaram sem nenhum outro acontecimento. Aline e Clarisse tomaram rumos diferentes em suas escolhas. Aline se formou em engenharia civil e Clarisse tornou-se psicóloga, mas um dia ainda teriam seus destinos cruzados. Aline conheceu um colega de profissão que lhe chamou muito a atenção por sua beleza, e o desejou tanto a ponto de ele se entregar facilmente aos seus encantos e curvas, a chamando para sair e conversar por diversas vezes depois do horário. Só havia um problema nele, ele tinha uma esposa linda e um filho maravilhoso e sentia-se culpado em trair a confiança deles. Aline o questionou: - Qual o nome da sua esposa? Ao que ele respondeu: - Clarisse.

Aline apenas sorriu...

Crédito: Lucas S. Machado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário